O Conhecimento ao Serviço da Sociedade

JC

 

De há muito que está comprovado que o desenvolvimento das sociedades está associado à evolução do conhecimento. Sem conhecimentos novos, ou seja, sem “investigação” em termos mais modernos, a sociedade teria ficado num patamar que, aos dias de hoje, poderíamos designar de pré-medieval, pré-histórico, ou algo do género. As ciências foram evoluindo, estando aquelas designadas de clássicas, como as que foram surgindo e ocupando espaços nas suas diferentes Eras. 
Hoje estamos numa Era de Desenvolvimento, onde as sociedades e as economias estão contidas numa tríade dimensional de economia, sociocultura e ecologia. Relativamente ao Turismo, os dados disponíveis apontam hoje para mais de 1,5 biliões de chegadas (entradas em determinado destino) e para receitas que rondarão os 1,8 triliões de euros, à escala mundial. 
Ora isto só pode significar que as economias, em geral (ou em média), estão a evoluir para níveis que permitem uma maior mobilidade de cidadãos nesta grande escala. Os povos sempre procuraram novos conhecimentos e experiências, e os níveis de desenvolvimento de hoje permitem alcançar patamares de vivência civilizacional inimagináveis há 40 ou 50 anos. Contudo, poucos são aqueles que percecionam a importância do turismo neste processo. O turismo visto como “liberdade para viajar” e como “oportunidade de experienciar”. Ainda hoje as empresas relacionadas e dependentes da existência de “viajantes”, não se aperceberam nem identificaram qual a sua missão. São os mercados que devem determinar o seu foco de negócio. 
O turismo tem sido apontado como um dos principais motores de desenvolvimento das economias, em particular, das economias mais frágeis (inclui-se aqui Portugal). Se as empresas e as instituições em geral não perceberem que numa Era de elevada competitividade, são os mercados que devem determinar os comportamentos da oferta, então correm o risco de serem ultrapassadas por aquelas mais atentas e despertas para esta realidade. Previsões de procura com base nas variações dos preços, influência das variáveis qualitativas como os gostos, hábitos, religião, cultura, género, entre outros, e quantitativas como a influência da idade, nível de rendimento e dimensão familiar, entre outros, são matéria que carece de uma maior e mais cuidada apreciação em termos de conhecimento. 
Sendo matéria de natureza académica, não pode deixar de ser também preocupação para os empresários. 
Portugal está hoje, como tem estado nos largos últimos anos, entre os principais destinos turísticos da Europa, mas as empresas que operam nesta área de atividade, não podem pensar que isto surge “porque sim”. Se estamos bem colocados, bem podíamos estar melhor! Há muito conhecimento na área do Turismo para ser desenvolvido e aplicado. 
A formação superior e técnica nesta área, objetivamente, não é suficiente para as necessidades totais (basta fazer a conta do crescimento dos principais setores associados: alojamento, entretenimento, transporte e restauração – com a taxa de empregabilidade associada e comparar com a capacidade formativa do país!). São muitas as frentes profissionais, que devem merecer a atenção e o crédito nos seus diferentes níveis formativos, por parte dos governos. O que é “profissional” deve servir para o exercício imediato da profissão e o que é mais “académico” deve servir para a observação e análise geral dos problemas, ou seja, deve servir para “prever o futuro sabendo intervir no presente”. A transversalidade do turismo permite-nos dizer que compete às instâncias públicas e privadas ligadas ao turismo encontrar soluções para os problemas das sociedades do futuro. 

IN: Diário de Leiria, 19 de dezembro de 2019

 Júlio Coelho|  :: Professor Coordenador do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar ; Doutor em Marketing e Comércio Internacional 
Investigador na área do Turismo