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ESAD.CR

Plasticidades

O Museu de Leiria desafiou a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, do Politécnico de Leiria (ESAD.CR), a participar na exposição Plasticidade.

Depois de algum tempo, com pausas para café e exploração de formas de colaboração, acordámos realizar uma residência artística a concretizar numa exposição dos seus resultados ou processos, com inauguração no dia Internacional dos Museus, 18 de maio de 2020.

Plasticidade é uma exposição que celebra uma região e a cultura material do conhecimento e adaptação dos materiais plásticos à economia, à ciência, ao entretenimento e ao bem-estar, ou mal-estar, social.

Plasticidade é uma qualidade dos corpos, e do espírito, para a adaptação às circunstâncias numa atualidade, refletida uma cultura material.

O filme de Alain Resnais, Le Chant du Styrène, central na exposição e potente ponto de partida para reflexões críticas e criativas, complexifica o seu significado ao colocar o espetador anterior no lugar do novo espetador em estado pandémico. Nestas circunstâncias, a exposição Plasticidades assume também um novo conjunto de significados.

Este é o contexto para as duas questões, evolutivas, que se colocam e que tornam esta residência tão interessante:

O que fazem 5 estudantes de Artes Plásticas, durante 5 dias, numa exposição dedicada a celebrar um século que se poderia chamar do Plástico?

E o que fazem essas 5 artistas estudantes quando o seu trabalho é atravessado pelo despertar do século para outros valores do plástico?

Filipa Jesus, Juju Bento, Luna Gil, Maria Matias e Rafaela Silva passaram uma semana no Museu de Leiria, no Espaço Serra, na Reixida, onde comeram dormiram e desenvolveram as ideias iniciadas no Museu; conversaram com Nuno Sousa Vieira e visitaram o seu atelier, e fizeram uma visita à Fábrica de Plásticos de Sto. António.

Essa experiência desenrola-se em processo, iniciado com uma visita preparatória e concluído na exposição agendada.

O processo foi complicado por um desastre de dimensão global, que afetou não só a forma de expor, como a forma de pensar e de fazer – a plasticidade das práticas envolve um enriquecimento da reflexão crítica e ecológica, mas também dos modos de materializar num espaço estendido e num tempo extra-ordinário nas suas múltiplas dimensões.

O plástico contém, enche, afasta, protege, isola, envolve, impede, atenua, refrate, dispersa, deixa ver, tapa, parece não ter cheiro, faz barulho, não tem peso, esconde-se, cobre, mata e salva.

Diariamente, intensamente, somos informados da evolução do estado pandémico, pós-pandémico e traumático dum mundo em que nada foi adiado, suspenso, colocado entre parênteses. O mundo não existe num intervalo de duração incerta, escondido de si. O mundo está escondido de uma molécula, mas não foi adiado.

As artistas estudantes residentes apresentam uma exposição online, onde irão atualizando o seu trabalho, em processo, até ao dia em que a exposição no espaço físico do Museu de Leiria seja possível

Os agradecimentos são devidos s à Sra. Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Leiria, Dra. Anabela Graça, a todos os artistas que no Espaço Serra na Reixida apoiaram as residentes, à coordenadora do Curso de Licenciatura em Artes Plásticas, Dra. Teresa Luzio Morais, a Dra. Vânia Carvalho e a toda a equipa que coordena no Museu de Leiria, a Nuno Sousa Vieira pela disponibilidade; e a Filipa, Juju, Luna, Maria e Rafaela, pelo trabalho apresentado, pela generosidade e pela plasticidade.

Leiria / Caldas da Rainha, 17 de maio de 2020,
João dos Santos,
Diretor da ESAD.CR