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ESAD.CR

Uma fotografia encenada com Anton Tchékhov a ler a sua peça, A Gaivota, para a companhia do Teatro de Arte de Moscovo. À direita de Tchékhov, está sentado Konstantin Stanislavski e, ao seu lado, Olga Knipper. A esposa de Stanislavski, Maria Liliana, está sentada à esquerda de Tchékhov. No lado direito da fotografia, está sentado Vsevolod Meyerhold. Vladimir Nemirovich-Danchenko encontra-se de pé, no lado esquerdo da fotografia.

Tio Vânia

de Anton Tchékhov

TEATRO
2 E 3 DE JULHO DE 2025, 21H
SALA 17 DO EP2 – ESAD.CR

“As florestas continuam a desaparecer, os rios secam, a vida selvagem extinguiu-se, o clima está arruinado e a terra torna-se mais pobre e feia a cada dia.”

Astrov, o médico rural que pronuncia estas palavras em Tio Vânia, está demasiado consciente da devastação ecológica causada pela industrialização do século XIX. E, no entanto, como muitas das personagens de Tchékhov, ele está igualmente maravilhado com o progresso e a emancipação social que esta promete. A tensão entre estes dois ideais apanha-o como papel mata-moscas, preso entre a inação e a apatia. O foco de Astrov concentra-se em assuntos do intelecto e do coração, enquanto à sua volta o som do machado, a cortar árvore após árvore, reverbera no seu coração vazio e na paisagem que se esvai. Tendo como pano de fundo uma tempestade iminente, vemos as personagens discutir a destruição do ambiente natural enquanto se destroem com a bebida, lamentam o amor não correspondido e choram sonhos por realizar. Tanto o lugar como as suas gentes estão numa ladeira escorregadia rumo a um declínio silencioso.

Tchékhov amava as árvores. As suas personagens estão sempre a passear pelos bosques, a reparar no som das folhas ou a reconhecer a estupidez de as cortar. Na sua própria propriedade rural, plantou tanto bosques como pomares (sim, incluindo cerejeiras). Em Tio Vânia, ele apresenta todo o espectro das relações humanas com a natureza, desde personagens que respondem à estética – ‘Oh, não é bonito?’ – até àqueles que querem explorar: ‘Quanto é que aquilo daria?’. Tchékhov caminha numa linha entre as duas posições, mostrando que podemos tentar divorciar-nos do mundo natural, mas ele infiltrar-se-á sempre profundamente nas nossas psiques. Por baixo de tudo há um alarme distante, a tocar algures lá longe, tentando despertar-nos, tentando elevar ao pensamento consciente o terror do subconsciente: que o empobrecimento do ambiente é o empobrecimento das nossas almas.

Tio Vânia é uma peça surpreendentemente bela, tornada mais ressonante quando a sua tragédia central absurda, de negação e inação, de tocar violino enquanto Roma arde, se torna o seu contexto mais amplo.

In, Freestone, E., O’Hare, J. (2021) 100 Plays to Save the World. Nick Hern

Direção artística: Maria Gil e Miguel Castro Caldas
Texto: Anton Tchékhov
Versão cénica: Miguel Castro Caldas
Interpretação: Beatriz Oliveira, Francisco Silva, Gonçalo Almeida, Júlia Sampaio, Leonor Fortio, Luana Vaz, Sara Jerónimo, Sónia Assunção.
Espaço cénico, figurinos: Gonçalo Almeida e Sara Jerónimo
Desenho de luz e som: Beatriz Oliveira, Júlia Sampaio e Leonor Fortio
Direção de cena: Luana Vaz e Sónia Assunção
Comunicação: Francisco Silva, Luana Vaz e Sónia Assunção
Apoio Vocal: Ana Sacramento
Técnico responsável: Daniel Coimbra
Operação de luz: Érica Jorge
Operação de som: Eva Gonçalves
Agradecimentos: Margarida Tavares