
JORNAL, if it walks like a duck and it talks like a duck it’s a duck
CHAMADA DE TRABALHOS
JORNAL, if it walks like a duck and it talks like a duck it’s a duck é uma publicação periódica dedicada aos livros de artista e à edição independente. Visa divulgar a produção científica acerca do que designamos como edição de autor, e fomentar a colaboração entre artistas, editores e investigadores, estudantes e professores, que produzam ou que se debrucem sobre estes objectos, ou que estudem assuntos afins. A origem de Jornal, If it walks like a duck and it talks like a duck it’s a duck tem como referência dois projectos editoriais desenvolvidos por escolas de referência, como o Journal of Artists’ Books[1] (ed. Columbia College Chicago) e Sans Niveau Ni Metre[2] (Cabinet du Livre d’Artiste/Universidade Rennes 2).
https://www.jornalitsaduck.pt/
Práticas de Escuta como Ecologias Visionárias
Listening Practices as Visionary Ecologies
O que é escutar? Escutar não é apenas recepção passiva dos sinais sonoros do mundo e dos seres. É uma relação sensível com o mundo e uma experiência multidimensional de sensorialidade extática e incarnada. Escutar é entrar em conexão com o mundo-mais-que-humano e expandir uma senciência alargada, que nos coloca nos fluxos e refluxos dos entrelaçamentos de entes viventes que se afectam mutuamente, que vibram e ressoam entre si. Escutar não é apenas notar ou observar: é uma prática atencional implicada e sustentada, uma forma de sentir ampliante, que conecta o pensamento e a imaginação com a pulsação da vida-em-movimento, em incessante transformação. Escutar abre formas de conhecimento únicas, intuitivas e reciprocantes. A recetividade radical da escuta é um gesto de atenção a exercitar e a afinar, uma aprendizagem infinita do diverso e do múltiplo co-habitante do planeta.
A escuta radical como prática podia ser o nome de um gesto de atenção ecossistémica, uma forma de cuidado e consideração do mundo, profundamente transformadora e empenhada em imaginar outras formas de cohabitação eco-política e de vida-em-colaboração. Escutar é a afinação e a acuidade do modo extático e alargado de consciência, no qual cada ser e cada coisa são voz e presença, com os quais estamos em comunidade e em contínua ressonância. Escutar, como uma prática de senciência alargada, promove formas inéditas reconhecimento da diferença e da alteridade, de reparação e cuidado, uma escuta radical como prática de reimaginação cosmopoética e pedagogia experimental do viver, em busca de outro modos de fazer comunidade e de entrar em ressonância. Escutar e ser escutado é sempre encontro e ligação, desenha politicamente práticas emancipatórias e antagónicas, alinhadas com uma ética da resistência e uma poética da hospitalidade face à perpetuação das formas de injustiça social do Capitaloceno. A escuta radical como acção de conexão com os territórios eco-acústicos do presente e com as micro-paisagens sonoras da Terra, reconecta os humanos com o mais-que-humano, com a teia das vidas e o mundo dos elementares. Recombinando escritas ecopoéticas e formas de pensamento especulativo, ficção e documentário, poesia e crítica, as artes e o pensamento conhecem renovadas alianças e florescimentos inauditos, companheirismo inter-espécies inéditos.
Num mundo cada vez complexo e polarizado, atravessado por fracturas agravadas e zonas sinistradas, a escuta é um modo de abrir relacionalidade e reciprocidade, de gerar diálogos e compreensão para a transformação humana e ecológica. Alargar as fronteiras do reconhecimento e dar voz a outros interlocutores, trabalha silenciosamente para um mundo mais igualitário e mais amplo, contribuindo destituir os pontos de vista hegemónicos do extractismo neoliberal e do excepcionalismo humano. As culturas da escuta são ontologias regenerativas: olham para o mundo como um pluriverso polifónico, como teia multidimensional entretecida de capacidades críticas e relacionais de muito agentes e actantes. Cuidar das coexistências e das coabitações tornou-se premente e urgente num mundo com cada vez mais consciência das inextricáveis interdependências e interconexões que o constituem. A práticas da escuta são formas de ecologia visionária: ampliam os círculos relacionais que o constituem intimamente, constituindo novas comunidades de ressonância e mapeando novos territórios eco-acústicos.
Com esta sintonia nas práticas da escuta, acolhemos, para ler, ver e escutar, propostas de ensaios visuais, desenhos e imagens, exercícios, protocolos e propostas experimentais, ensaios e textos teóricos, ficções especulativas e escritas ecopoéticas, traduções e transmutações em múltiplos formatos, que possam ser transpostas para publicação no Jornal.
Rodrigo Silva
CALENDÁRIO:
15 de Setembro 2025 – Prazo para entrega de artigos.
Outubro de 2025 – comunicação dos artigos selecionados
Novembro de 2025 – lançamento do jornal.