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O que soa nas “artes sonoras”? – NUNO FONSECA

Nestas primeiras décadas do séc. XXI, expressões como “Sound Art”, “Klangkunst”, “Sonic arts” ou mesmo “Sounding art”, entre outras que colocam o som ou a experiência sonora no centro do fazer artístico, têm sido usadas de forma recorrente, tanto no discurso académico, como no mundo da arte, apesar das controvérsias teóricas e, por vezes, das resistências dos próprios artistas, para designar, na verdade, um conjunto diversificado de práticas artísticas contemporâneas que se cruzam frequentemente com outras disciplinas (da instalação in situ ao soundwalk, passando pela escultura sonora ou pela experimentação musical e performance). Estas práticas não nasceram, porém, apenas neste século, tendo uma complexa genealogia que remonta, pelo menos, às vanguardas do princípio do século XX e cujos ramos intersectam as histórias da música, da tecnologia, das belas artes, do cinema e transformações na própria sensibilidade estética, social e política da época contemporânea. A convocação de alguns momentos e algumas peças dessa complexa genealogia ajudará certamente a esclarecer os problemas, noções e especificidades a que aquelas designações pretendem atender.

Propõe-se, pois, fazer um exercício de reflexão sobre o que está em jogo nestas “artes sonoras”, nomeadamente a possibilidade do “som em si mesmo” se tornar o material plástico ou o medium de certas práticas artísticas, mas também de a experiência sonora, a audibilidade e as questões da escuta e da ressonância (social, política e até ecológica) servirem de princípios de inspiração semântica, expressiva e imaginativa para uma arte sonora não-coclear. As obras de artistas como Max Neuhaus, Christina Kubisch, Christian Marclay, Jana Winderen e Christine sun Kim servir-nos-ão de guia para esse exercício.

QUARTA-FEIRA, 6 de Abril. 17h30- 20h00

AUDITÓRIO DO EP1Nuno Fonseca (n. 1974) é actualmente investigador integrado do Instituto de Filosofia da Nova (Ifilnova), onde coordena o grupo Arte, Crítica e Experiência Estética do Culturelab, e colaborador do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM). Investiga vários tópicos da Estética e Filosofia da Arte, focando-se sobretudo na experiência sonora no âmbito das práticas artísticas e musicais contemporâneas, mas também no contexto do quotidiano urbano. Leccionou, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a disciplina de “Retórica e Argumentação” (2012-2014), no curso de Ciências da Comunicação, o seminário “Arte e Experiência” (2012-2013), no âmbito do mestrado em Estética, o curso semestral “Urban Aesthetics: Philosophy, Art and the City” (2020-2021) e vários cursos de curta duração sobre a Filosofia dos Sons e das Artes Sonoras (2015-2018), Lógica, Estética e Epistemologia (2018-2021). Licenciado em Direito (1998) e em Filosofia (2004) pela Universidade de Coimbra, concluiu no ano 2012, o doutoramento em Filosofia (Epistemologia e Filosofia do Conhecimento) na FCSH-UNL, trabalhando sobre questões de representação e de percepção. Para além de vários artigos e capítulos publicados nacional e internacionalmente, é também o autor da primeira tradução e edição integral portuguesa da Lógica de Port-Royal, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Desde os anos 90, ligado a experiências com o meio sonoro, nomeadamente, através da realização de programas radiofónicos na Rádio Universidade de Coimbra e mais recentemente na Antena 2, tem feito também algumas incursões na sonoplastia de espectáculos de teatro e performance, nomeadamente, Antológica (2014), de Vasco Araújo e do Teatro Cão Solteiro e Morceau de Bravoure (2015), espectáculo do Teatro Cão Solteiro com a Companhia Nacional de Bailado.