FOTOGRAFIA_ 19 a 23 de Abril
TENDA I ANTENA
Propõe-se a construção e experimentação de dois dispositivos de captação de sinais lumínicos e sonoros exteriores e inerentes ao nosso planeta. 1. Tenda – câmara fotográfica, baseada no modelo do astrónomo Johannes Kepler – inserida em projeto de investigação em desenvolvimento. Construção, instalação, observação, exposição e revelação de superfícies fotossensibilizadas. 2. Antena – captação de sonoridades através de uma antena sensível a baixas frequências; captação das sonoridades naturais das paisagens em torno da residência. Edição e modulação electrónica dos sons e construção de uma peça sonora. Emissão rádio para as estrelas.
(*) O presente projecto de investigação comporta o desenho e a construção de um dispositivo óptico e fotográfico permitindo ver e imprimir os astros do céu (à noite). Este dispositivo inspira-se na câmara-tenda ou camera obscura do astrónomo Johannes Kepler. Relativamente ao “estado da arte”, podemos afirmar que não se conhecem antecedentes artísticos com o intuito de explorar esse invento de Kepler na perspectiva de contemplar ou registar o céu à noite. Mesmo as hipóteses do seu uso científico, por Kepler, são hesitantes: terá ele tentado ver o Universo projectado nas duas dimensões do papel? Ter-se-á servido para desenhar os astros e assim representar a carta dos céus? Seja como for, não dispondo à época (inícios do século XVII) da descoberta da fotografia, Kepler jamais poderia ter desenhado todas as estrelas brilhantes, privado de mãos suficientes para compensar o movimento rotativo da Terra. Daí a novidade em que assenta o nosso projecto, com duas componentes: construir o dispositivo-tenda dotando-o da dupla função de impressão de luz (camera obscura) e de revelação fotográfica (câmara escura). O maior problema a enfrentar consiste precisamente na articulação entre estas funções no interior da tenda, sendo necessário conceber uma estrutura material relativamente ágil, suficientemente estanque e relativamente ampla. Ágil para permitir a sua vocação ambulante e de fácil instalação ao ar livre, estanque para cumprir o seu desígnio de câmara de impressão e de revelação, ampla para possibilitar a permanência de (pelo menos) dois observadores de cada vez. O grupo de investigadores, reunido em torno do Investigador Responsável, visa dar resposta às múltiplas vertentes técnico-científicas que um tal projecto artístico requer: a vertente óptica, a química e a de design de equipamento. Num mundo saturado de imagens, como é o nosso actualmente, num mundo em que paradoxalmente nunca houve tanta ignorância técnica e fenomenológica sobre a realidade de uma “imagem” (digna deste nome), o resultado principal a que almejamos é o seguinte: tornar de novo habitável a gestação da imagem, testemunhando a latência cósmica da luz emitida pelos astros (tempo ancestral) e a latência química da revelação fotográfica (tempo dito “presente”). Nesse encontro entre latências, o observador poderá reencontrar o tempo da imagem — o tempo que qualquer imagem, afinal, nos solicita.
PEDRO TROPA
É artista, fez a sua formação em Desenho e Fotografia no Ar.Co. Foi bolseiro da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento / IAC – Ministério da Cultura na School of The Art Institute of Chicago, EUA. Há cerca de duas décadas que o seu trabalho em desenho, fotografia, texto e som está fortemente ligado à paisagem e à sua prática enquanto montanhista. Pertence desde 2009 ao grupo de artistas da Galeria Quadrado Azul. É artista colaborador desde 2018 do colectivo Osso e é membro fundador do projecto Matéria Simples. É professor desde 2007 no Ar.Co – Centro de Arte de Comunicação Visual onde é actualmente o responsável do departamento de Fotografia. Desde 2010 que realiza o curso ‘Saída de Campo’ que agrega os alunos de Desenho e Fotografia em regime de trabalho de campo no maciço central da Serra da Estrela.
Esta residência foi financiada com o apoio do LIDA – Laboratório de Investigação em Design e Arte, por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/05468/2020