Museus, participação e desenvolvimento do território
Vânia Carvalho e Raquel Janeirinho
AULA ABERTA
05 DE JANEIRO DE 2024, 14H30
SALA 44 DO EP.1 – ESAD.CR
Nesta aula aberta, vamos conhecer o admirável trabalho que vem sendo promovido em Leiria e Peniche, a pretexto de uma reflexão sobre os museus e os desafios do mundo contemporâneo. Vamos sensibilizar para a dimensão identitária e de transformação social dos museus, apresentar projetos concebidos com e para a comunidade, assim contribuindo para uma educação mais ativa e criativa. Debatem-se estratégias de programação cultural assentes em valores identitários, que visam o desenvolvimento do território, numa articulação com os desígnios da inclusão social e multicultural.
MUSEU DE LEIRIA. Um Museu em Construção; por Vânia Carvalho
O Museu de Leiria tem uma história que recua a finais do século XIX, mas a data que se assume como fundacional é a do decreto de 15 de novembro de 1917, que cria o Museu Regional de Obras de Arte, Arqueologia e Numismática de Leiria. O museu ganhou um novo nome e uma nova casa, no Convento de Santo Agostinho, e reabriu a 15 de novembro de 2015. Trata-se de um museu de tutela municipal, com coleções de proveniência regional e um acervo muito mais diverso do que a sua designação inicial faria pressupor. Situa-se num monumento classificado como Imóvel de Interesse Público, um importante complexo monástico que remonta aos tempos da definição de Leiria como cidade, em meados do século XVI, e que se insere num programa muito mais vasto de transformação urbana de Leiria. O Museu esteve instalado em quatro locais diferentes desde 1917, num processo que se revelou bastante atribulado, sendo que, entre 1986 e 2015, as suas coleções estiveram praticamente inacessíveis ao público.
O Município de Leiria foi responsável pela execução do projeto de reconversão do imóvel, que procurou conjugar a requalificação, a conservação e a valorização como núcleo monumental do edificado, adaptando-o a novas funções museológicas, num processo que se procurou integrador. O projeto museológico foi realmente participado, envolvendo mais de 40 investigadores e entidades, e o Museu de Leiria, que é resultado do trabalho e das ideias de muitos, ao longo de mais de um século, tem vindo a procurar ser agora um museu de todos e para todos, com consciência dos múltiplos desafios inerentes a este anseio. Só agora se torna possível aceder a um importante espólio patrimonial, histórico, arqueológico, artístico e educativo que até 2015 não estava verdadeira e totalmente acessível aos vários públicos.
Pretendeu-se criar um espaço museológico de proximidade, concebendo-se um museu inclusivo, acessível, acolhedor, confortável e amigável para todos. Desde o início que se considerou essencial estabelecer uma forte relação com a comunidade a que o museu pertence, integrando as necessidades dos residentes locais e visitantes. Este é um processo em constante (trans)formação.
ESTRATÉGIAS MUSEOLÓGICAS PARTICIPATIVAS NO CONCELHO DE PENICHE; por Raquel Janeirinho
Norteada pelos princípios da sociomuseologia, a ação desta antropóloga tem colocado o enfoque no trabalho de campo, organizando exposições e projetos de educação e mediação cultural que têm como base o inventário participativo, com o objetivo de fortalecer as relações museu-comunidade, considerando a articulação entre património e desenvolvimento.
VÂNIA CARVALHO é Técnica Superior do Município de Leiria como coordenadora do Museu de Leiria, do Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho (CIALV) e do Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (CDIL). O seu percurso académico inclui uma licenciatura em História, variante Arqueologia, com mestrado em Evolução e Biologia Humanas e pós-graduação em Estudos Avançados em Turismo, Lazer e Cultura, pela Universidade de Coimbra. Acredita que os museus precisam de trabalhar, ouvir e dar voz às diversas comunidades, tanto dentro quanto ao redor deles, para se tornarem espaços participativos livres e autênticos. Procura promover o envolvimento ativo e inclusivo dos visitantes e da comunidade, fomentando a consciência e a valorização do património cultural, histórico e arqueológico, assim como a preservação e divulgação da história local. Está envolvida em diversos projetos museológicos, sendo que colaborou diretamente na reflexão, criação e desenvolvimento do projeto Museu na Aldeia em conjunto com uma equipa multidisciplinar formada por profissionais de museus e artistas com sólida experiência em projetos de intervenção social pela arte.
RAQUEL JANEIRINHO é Técnica Superior do Município de Peniche, onde desenvolve funções nas áreas do património cultural, da educação patrimonial e da rede museológica do concelho. Licenciada em Antropologia, mestre em Museologia com a dissertação “Património, Museologia e Participação: Estratégias Museológicas Participativas no Concelho de Peniche” (2012), pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. É membro da Direção do MINOM Portugal – Movimento Internacional para uma Nova Museologia.