Exposição “Brinquedos óticos. Entre ciência, arte e educação.”

7 de junho a 29 de setembro de 2023 | Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – Politécnico de Leiria

Os brinquedos óticos formam um grupo de dispositivos com valor lúdico, educativo e de entretenimento, combinado com carácter científico, ligado à neurociência e psicologia da perceção.  Muitos deles são também conhecidos como “brinquedos filosóficos ” , designação também ela com origem no séc. XIX.

É provável que as primeiras ligações do ser humano às “visões mágicas” remontem à Pré-História, através das experiências intencionais realizadas pelo ser humano com objetos que influenciavam a perceção da luz, da sombra, da cor e da perspetiva.

De facto, o princípio do fenómeno da “persistência retiniana”, que hoje é manifestamente incompleto na explicação da perceção da imagem em movimento contínuo a partir de imagens estáticas, foi inicialmente elaborada no Antigo Egipto, mas, só formalmente exposto após as experiências de Isaac Newton (1643-1727) e mais tarde por Mark Roget (1824).

Roget apresenta a sua tese acerca da capacidade que a retina possui para “reter” a imagem de um objeto por aproximadamente entre 1/20 a 1/5 segundos depois da exposição à luz, ou seja, é a fração de segundo em que a imagem permanece na retina. Durante muito tempo acreditou-se que este fenómeno ligado à fisiologia do olho fosse o responsável pela síntese do movimento nos brinquedos óticos.

No século XVI alguns dispositivos óticos experimentais no período Pré-Cinema já faziam parte dos gabinetes de curiosidades nas cortes reais. Entre o século XVII e XIX cientistas alemães, franceses e ingleses viriam a desenvolver inúmeras variantes com grande recetividade junto do público, quer infantil, quer adulto, usados nos contextos familiar e social das famílias, mas também em contexto de religioso ligado à evangelização (nas missões), contexto escolar e mais tarde em espaços de diversão como feiras ou eventos sociais. Hoje a magia da ótica persiste, acompanhada pela evolução da tecnologia digital nos campos da Ciência, Arte & Design e Indústria da Computação e do Entretenimento.

Mas, que futuro perspetivamos para a “magia da imagem” enquanto mediador de narrativas nos contextos educativos? Aliás, que presente e que futuro para estes dispositivos e brinquedos óticos numa paisagem que se prevê quase globalmente dominada pelo digital?

Consideramos que a magia não desaparece, mas evolui, como evoluíram em linhas cronologicamente paralelas a maior parte dos dispositivos óticos, melhorados a cada passo desde há mais de 200 anos. O que nos interessa neste projeto é o potencial de integração e de transnarrativa. Mais do que um brinquedo ótico, o taumatrópio permite a combinação e travessias entre linguagem verbal e visual numa negociação semiótica que serve à codificação e descodificação de conteúdos variados, sendo inseparável das narrativas políticas, culturais e sociais de cada contexto.

O taumatrópio significa literalmente o “prodígio que gira” [do grego. ϑαῦμα -ατος «prodígio» e τρέπω «virar ou girar»] faz aparecer uma 3ª imagem de fusão visual que pode aludir a uma sequência narrativa criada por derivação, neste caso a partir da narrativa de cariz visual. O todo é assim mais do que a soma das partes.

Quando cientes deste potencial ligado a uma multiliteracia e usados como um recurso pedagógico promotor de pensamento complexo, os futuros educadores e professores têm oportunidade de confirmar que as crianças são menos um recetáculo de informação, e mais um agente ativo e participante dos seus processos de aprendizagem.

Esta exposição mostra exemplares originais analógicos criados na Unidade Curricular de Complementos de Expressões Artísticas, cuja manipulação é acompanhada por uma história, poema, adágios ou até versos de uma canção. O seu potencial é reconhecido enquanto recurso pedagógico na Educação Artística, no ensino formal e não-formal, na articulação entre museus e a escola. Aqui foi sobretudo um ativador de possibilidades criativas com ênfase no modo de se pensarem os domínios de autonomia curricular (DAC).

Filipa Rodrigues

 

Vídeo “Manipulação de taumatrópios”

 

 

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Ficha Técnica:

Programação e Produção
Filipa Rodrigues | CI&DEI, Politécnico de Leiria e CIEBA, Faculdade de Belas Artes de Lisboa
Sónia Gonçalves

Curadoria
Filipa Rodrigues

Autoria Taumotrópios
Estudantes do Mestrado em Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Matemática e Ciências Naturais no 2º Ciclo do Ensino Básico, Mestrado em Ensino do 1.º CEB e de Português e História e Geografia de Portugal no 2º Ciclo do Ensino Básico, Mestrado em Educação Pré-Escolar e Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico:

Adriana Crespo, Alice Picão, Ana Antunes, Ana Jacinto, Ana Sofia Ferreira, Andreia  Pereira, Andreia Oliveira, Beatriz Gonçalves, Beatriz Guilherme, Beatriz Mateus, Beatriz Morgado, Beatriz Pinto, Beatriz Sá, Beatriz Sousa, Beatriz Vieira, Carolina Santos, Carolina Silva, Catarina Antunes, Catarina Duarte, Cátia Ferreira, Cátia Monteiro, Cátia Pinto, Celeste Machado, Daniela Barbadães Rodrigues, Diana Neves, Diana Simões, Filipa Ferreira, Gabriela Cordeiro, Inês Anjos, Inês Costa, Inês Gomes, Irina Pires, Joana Dias, Joana Rodrigues, Juliana Joaquim, Mafalda Cabaça, Márcia Francisco, Margarida Brito, Maria Andrade, Maria Costa, Maria Dionísio, Maria Inês Silva, Maria Neves, Mariana Marques, Mariana Reis, Marta Santos, Princy Thykoottathil, Sara Neves, Sara Oliveira, Sofia Gonçalves

Design Gráfico
Francisco Moreira

Comunicação
Francisco Moreira
Liliana Gonçalves

Fotografia
Maria Kowalski

Captação de Vídeo e edição de vídeo e áudio
Catarina Varanda | CRM/ESECS

Colaboração
Ana David Mendes – Investigadora| FCT/ CICANT- Curadoria em Artes dos Media, Lisboa, Portugal
Ana Paula Proença | CI&DEI, Politécnico de Leiria e CIEBA, Faculdade de Belas Artes de Lisboa Portugal
Sandrina Milhano| CI&DEI, Politécnico de Leiria e CICS.NOVA, Politécnico de Leiria
Maria Kowalski | CI&DEI, Politécnico de Leiria e ICNOVA – Cultura, Mediação e Artes

Agradecimentos

Direção da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais |IPLeiria
Direção dos Serviços de Documentação do Politécnico de Leiria
Colecionadora Ana David Mendes
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
Pedro Lila – Biblioteca do Campus 1 do Politécnico de Leiria
Vera Miguel – Biblioteca José Saramago do Politécnico de Leiria
Isabel Francisco – Biblioteca José Saramago do Politécnico de Leiria
Vânia Coelho – Biblioteca José Saramago do Politécnico de Leiria
M|I|MO – Museu da Imagem em Movimento

Leituras recomendadas:

  • Bak, M. A. (2020). Playful Visions: Optical toys and the emergence of children’s media culture. The MIT Press.
  • Briggs, A. & Burke. P. (2006). Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet (2ª ed.), Rio de Janeiro.
  • Cavanagh, P. (2011). Visual cognition. Vision Research, 51(13), 1538–1551. https://doi.org/10.1016/j.visres.2011.01.015
  • Feijó, A. & Monteiro, M. (2007). Brinquedos ópticos baseados no filme de Regina Pessoa: história trágica com final feliz. Ciclope Filmes.
  • Genette, G. (1992). The Architext: An introduction. University of California Press.
  • Gunning, T. (2012). Hand and eye: Excavating a new technology of the image in the victorian era. Victorian Studies 54 (3), 495-516. https://www.muse.jhu.edu/article/483995
  • Helmholtz, H. von (1867). Handbuch der Physiologische Optik. Leopold Voss.
  • Nelson, E. (2010). Market sentiments: Middle-class culture in 19th-century America. Smithsonian Institution Press
  • Pinker, S. (1984). Visual cognition: an introduction. Cognition, 18(1–3), 1–63. https://doi.org/10.1016/0010-0277(84)90021-0
  • Prudêncio, S. P. & Gomes, C. A. E. (2016). O brinquedo óptico enquanto pretexto para explorar a percepção e a relação com a imagem em movimento. Revista Matéria-Prima, 4(3), 2182-9829.  https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/28431/2/ULFBA_MatPrima_V4N3_p196-202.pdf
  • Shimojo, S., Paradiso, M., & Fujita, I. (2001). What visual perception tells us about mind and brain. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 98(22), 12340-12341. https://doi.org/10.1073/pnas.221383698