Exposição “Vitória” – Residência artística de desenho
  • Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha | 19.04.2021 — 25.06.2021
  • Museu da Comunidade Concelhia da Batalha | 07.07.2021 — 30.09.2021
  • Biblioteca Campus 1 (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais) | 03.10.2021 — 02.01.2022

A exposição “Vitória” mostra o trabalho realizado por estudantes da Escola Superior de Artes e Design – Caldas das Rainha (ESAD.CR) do Politécnico de Leiria, que no âmbito de um projeto inscrito no LIDA – Laboratório de Investigação em Design e Artes, estiveram presentes numa residência artística de desenho no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha orientada por Marco Nunes Correia.

Os trabalhos expostos, maioritariamente cadernos de desenho, resultam da experiência de habitar o monumento e os espaços circundantes, não só no período diurno como noturno. O Mosteiro de Santa Maria da Vitória mais conhecido por Mosteiro da Batalha é uma das peças de arquitetura mais importante da região da Rede Cultura 2027, de Portugal e da Europa. Construído para honrar uma promessa do rei D. João I em agradecimento à vitória na Batalha de Aljubarrota este monumento património mundial da UNESCO testemunha os percursos da história.

Os desenhos resultam da tentativa de auscultar as histórias do seu processo de construção e ocupação, a riqueza da sua ornamentação em trabalhos de cantaria rigorosos e exemplares, os grafitos teimosamente perenes, a importância da água, do lagar, da pedra e da pedreira, dos campos, da afirmativa verticalidade, mas também da microscópica, mas inclemente erosão.

Esta exposição apresenta trabalhos realizados nas residências artísticas de 2021 e  2019, da autoria de  Bárbara Faden, Rodrigo Gomes, Valéria Beskorovanyy, Maria Fradinho, Inês Garcias, Rodrigo Barroso, Bartolomeu de Gusmão, Ana Vicente, Fábio Aveiro, Gonçalo Bregieira, Mariana Cordeiro, Mariana Coutinho, Pedro Roberto, Tiago Oliveira, Vicente Faria, Catarina Lopes, Inês Simões, Leandro Gonçalves, Leonor Neves, Maria Madalena Castro e Sofia Ponte.

 

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Vitória


O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, no Município da Batalha, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, é um dos três patrimónios UNESCO da Rede Cultura 2027.

O Mosteiro celebra a refundação da independência de Portugal em relação a Castela, no século XIV. Este extraordinário monumento do Gótico em Portugal, foi mandado construir por D. João I de Portugal em agradecimento a Santa Maria da Vitória pela proteção concedida aos portugueses durante a batalha de Aljubarrota. Batalha que foi vencida em pouco mais de meia hora contra todas as espectativas, atendendo ao poderio de Castela.

Vitória é o título da presente exposição, é o, por ser uma afirmação do passado, dos motivos para a sua construção, da resistência ao saque das invasões francesas, mas sobretudo por ser uma necessidade de futuro. Necessitamos de conhecer, valorizar e conservar um património que é notável para a região, o país e para a europa.

De facto, desde a sua criação que o Mosteiro de Santa Maria da Vitória não quis ser um testemunho de uma ambição pequena, D. João I de Portugal após se ter consagrado como legitimo rei de Portugal pela vitória na batalha de Aljubarrota, inicia um programa político e teológico ambicioso. Nele participaram arquitetos excecionais, desde Afonso Domingues, cerca de 1387 a Lucas dos Santos Pereira já no século XIX, contam-se pelo menos mais sete arquitetos importantes no contributo que deram quer para o projeto e a construção do monumento, quer para a sua conservação e restauro.

De facto, faz sentido realizar trabalho em formato de residência no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, pela importância do edificado, as ricas camadas de história e histórias que o monumento apresenta, mas sobretudo pela excecional qualidade do seu desenho. De entre as várias estratégias possíveis, o foco no desenho é uma das mais fortes. Para onde quer que se olhe, desde as abóbadas estreladas, passando pelas bandeiras do claustro de D. João I, a rica ornamentação das capelas imperfeitas até aos pináculos góticos, é o desenho que se impõe, um desenho que indica, que ordena, desafia, arranja e dispõe todo o discurso do monumento numa mensagem duradoura, tanto inscrita na pedra como na nossa memória coletiva.

A residência artística parte do pressuposto de que só a duração na observação é capaz de resgatar a singularidade do monumento e do seu contexto. Hoje vemos mais imagens num dia do que alguém veria durante uma vida inteira na Idade Média. Mas a nossa relação com as imagens mudou, a proliferação de imagens tornou-as transitórias e quase irrelevantes. Mas quando o mosteiro de Santa Maria da Vitória foi construído poucas eram as vias de comunicação e as edificações que o circundavam. Dominavam em seu redor, os campos de cultivo, os bosques de carvalho e relativamente perto o lagar e a pedreira de onde saíram os blocos de pedra para a sua construção.

No dia em que o Mosteiro que acolheu uma ordem mendicante, os dominicanos, se abria ao povo, podemos imaginar que os rostos de quem olhava pela primeira vez aquele monumento, aquela realização arquitetónica, eram rostos certamente carregados de espanto, certamente aquelas imagens do portal, da capela do fundador policromada e da igreja pareciam-se mais com a ideia de deus na terra do que com as capacidades plenas do homem, essas imagens eram certamente fortes e duradouras.

Para que se possa reatar uma relação mais duradoura com as imagens do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, talvez valha a pena partilhar as imagens que os nossos estudantes realizaram após dias e noites em contacto com o monumento, com o lagar, e a envolvente paisagística do Município da Batalha como a Pia do Urso e as Grutas da Moeda. Gostaríamos muito que essa partilha nos fizesse abrandar o ritmo das visitas mais apressadas, e nos fizesse descobrir o prodígio e a vitalidade dos desenhos, dos grafitos, dos ornamentos, esculturas desta arquitetura pétrea e de seguida mergulhar paisagem adentro descobrindo as aldeias e paisagens cársicas da Batalha.

 

Samuel Rama & Marco Correia

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Na sua abordagem mais despretensiosa, uma residência artística é, desde logo, um  encontro de artistas que se juntam durante algum tempo, num determinado espaço ou local, para dedicar a sua atenção a algum projeto específico, para buscar inspirações e fazer obra.  O conceito implica o convívio, a partilha artística, o desenvolvimento de novas ideias junto de outros artistas.

A proposta de uma residência artística no Mosteiro da Batalha com jovens finalistas da licenciatura de artes e design da ESAD surge com naturalidade, desde logo porque um monumento que é obra prima do gótico e que durante século e meio foi o grande estaleiro da inovação artística e arquitetónica em Portugal, é, por natureza, lugar inspirador de criação artística.  E mais do que um encontro de passagem,  causador de  deslumbramentos efémeros, a residência artística traz essa oportunidade de os jovens artistas poderem olhar demoradamente o monumento, vivenciá-lo e apropriarem-se um pouco dele.

Durante uma semana os jovens participantes na residência artística abriram-se também ao encontro com outras paisagens e outras experiências, que não apenas a do mosteiro/monumento: logo ali, a 500 metros, ficam as ruínas da adega e lagares conventuais, que se integravam na antiga cerca conventual, mesmo junto ao rio Lena; e bem mais longe, no extremo leste do concelho, a aldeia da Pia d’Urso, deixada cair ao abandono até há cerca de 30 anos e entretanto requalificada e, de novo, habitada.

A exposição agora patente é uma pequena mostra dos trabalhos realizados ao longo dessa última semana de julho de 2019, por cerca de 15 alunos e também pelo seu coordenador, o professor Marco Correia.

Projeto que cruza uma feliz colaboração entre o Mosteiro da Batalha/DGPC, a ESAD/Politécnico de Leiria e a Câmara Municipal da Batalha, esta exposição, entretanto sucessivamente reagendada  por motivo da pandemia, antecipa a realização da 2ª residência artística, que se espera breve.


Joaquim Ruivo, Diretor do Mosteiro da Batalha

 

 

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FICHA TÉCNICA

Curadoria: Marco Correia e Samuel Rama 

Design gráfico: Francisco Moreira

Comunicação: Francisco Moreira e Liliana Gonçalves