Filhos-de-Gea_artigo“Filhos de Gea” – Exposição coletiva de escultura, pintura e fotografia.

De 27 de outubro a 22 de dezembro de 2017 a Biblioteca José Saramago (Campus 2 do Politécnico de Leiria) acolhe “Filhos de Gea”, uma exposição de escultura, pintura e fotografia, da autoria de Abílio Febra, Alvaro Almaguer e Francisco Pedro.

 “Filhos de Gea” é uma viagem à Mãe Terra, à Natureza, com paragens nos silêncios e sons de olhares arrancados do solo, que reclamam territórios de igualdade.

A viagem começa no dia 27 de outubro, pelas 21h00, com apresentação de Agostinho Pedroso.

 

Da invisível célula ao fundo do espaço

De frente para um milhão de árvores, o céu é de todos os verdes e o chão de folhas que se transformam para regressar. Lá atrás, um rio que foge, que fica e não volta. Sinto-o por entre o silêncio e o som das gotas que se soltam para nele mergulhar. Num vôo de vento ondulante da imaginação recortado. Sei que sou só um, pequeno mas sem fim, que tudo pode ser, não sendo nada. Porque a vida, também é a invenção que nos permite inventar sonhos dentro de sonhos, e só a pequena possibilidade de a pensar é a dádiva de uma fé imensa em que não precisamos de crer. Porque estamos cá, dentro, vivos. Da invisível célula ao fundo do espaço, do complexo ao interminável, do minúsculo ao colossal. Tudo parte na maravilha do infinito girar que nunca nos larga. Dos que nadam aos que voam, da partícula ao cosmos, entrelaçados numa existência maior, todos filhos da mesma Natureza. Arte suprema, ventre da vida, mãe de tudo. Podemos problematizar o aleatório, ou simplesmente sentir o universo a pulsar, partilharemos sempre um qualquer desconhecido sem solução, resta-nos contemplar, partir e depois regressar, para sempre.

Ricardo Graça

 

 

GEA (9)

Da esquerda para a direita: Francisco Pedro, Alvaro Almaguer, Abílio Febra (Fotografia: Ricardo Graça).

 

Abílio-FebraAbílio Febra

Natural de Maceira, Leiria, 1956. Expõe desde 1984 e realizou mais de três dezenas de exposições individuais em diferentes cidades de Portugal e outros países europeus. Participou em mais de 100 exposições coletivas em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Holanda e Macau. Depois de um curso de escultura no Ar.Co. -Lisboa (1983-1986), inicia-se como escultor e passa a expor regularmente encarando esta atividade profissionalmente. Licenciado em Geografia desde 1980, foi professor do ensino secundário durante 33 anos. Viver da escultura e para a escultura foi desde sempre o seu sonho. A partir de 2013, deixa o ensino para se dedicar em exclusivo à escultura.

 

Saídas da Terra 

As esculturas “Filhas de Gea” parecem ser arrancadas da terra; à semelhança de longas e emaranhadas raízes desenterradas do solo despido que todos pisamos e partilhamos. Nascem assim… da terra. E trazem consigo o jeito da Terra, a sua respiração e o bater do seu coração. É assim que as quero mostrar, meio como sombras a insinuarem-se personagens do nosso subconsciente, como se fizéssemos parte delas, mesmo que pareçam feitas de madeira ou policromadas com anilinas ou terras naturais. Profetas da mãe natureza, trazem consigo uma mensagem de igualdade mas reivindicam respeito pelo seu espaço vital, pelas suas crenças e restantes seres vivos com os quais coabitam em harmonia. Vivem de um certo encantamento universal que lhes dá sentido à vida. Exatamente o mesmo sentido que nos une também. Como se pertencêssemos todos a uma só raiz. (Também ela arrancada da Terra.)

Guerreiro de Gea

Guerreiro de Gea – 2017
(Madeira de carvalho – 230x60x30cm)

 

 

Alvaro-AlmaguerAlvaro Almaguer (Almer)

Almer é natural de Holguin, Cuba, mas reside em Havana. Pinta as suas obras recorrendo a diferentes técnicas e suportes como a cerâmica e a gravura. Ocasionalmente cria esculturas para exteriores. Em 1983 na sua cidade natal que começa a expor as suas obras. O seu currículo artístico conta já com 25 exposições individuais e mais de 100 coletivas, em Cuba e no estrangeiro. Conta ainda com trabalhos em coleções privadas e estatais, não só em Cuba como noutros países. Exerceu os cargos de assessor e professor no ensino secundário e superior em Havana e Holguin. A partir do final da década de 80 e o início da década de 90 realizou acessoria técnica na Oficina Gráfica da Universidade das Artes em Havana onde se vinculou ao forte movimento de artistas que decorria, realizando cinco exposições sobre questões sociais.

Os Filhos de Gea

Caos, de acordo com a cosmogonia grega, é o que existe antes dos Deuses, das forças elementares e do estado primordial do Cosmos. Atualmente é denominado pelos cientistas como Entropia e, de acordo com a Teologia de Hesíodo, conta como depois do Caos surgiu Gea, a Terra, o eterno fundador dos Deuses de Olimpo, do próprio corpo. Eu acredito que URANO, o Céu, e o PONTO, a profundidade do mar e tempo CRONO são Mitos, História, mas estão presentes nas minhas obras que se alimentam deles, o Mundo não deixou o Caos, o Mundo surgiu nele e mantem-se nele, até mesmo a natureza histórica ou a política cultural. As minhas obras refletem o círculo já visitado da luta pela igualdade e respeito por toda a sua manifestação, não só nas questões raciais, mas também na sexualidade e na nacionalidade e foi neste Caos que isso submergiu, a origem de Mundo. O meu trabalho é um apelo dirigido à atenção para reivindicar a nossa igualdade humana.

 

Oddun, Astral de Ejiobbe (Técnica mista/linho – 118x96cm)

Oddun, Astral de Ejiobbe
(Técnica mista/linho – 118x96cm)

 

 

Francisco PedroFrancisco Pedro

Natural de Leiria, 52 anos, jornalista. O interesse pela cultura indígena, levou-o a contactar com várias comunidades Yanomami, na amazónia brasileira; com o povo Nasa, na Cordilheira Central Andina, na Colômbia; e o povo Warao, no Delta Amacuro, na Venezuela. Destas viagens publicou reportagens nas revistas Grande Reportagem, Única (Expresso) e Domingo Magazine (CM) e no jornal “O Independente”. Publicou o livro “Filhos da Amazónia, diário de um jornalista na terra dos índios” (2008, Ed. Imagens e Letras).

Participou em várias exposições coletivas e individuais, das quais se destaca : “Yanomami – Povo da floresta”, patente em Portugal, Espanha e Alemanha; “Tinto ou Branco – Tabernas de Portugal” e “Mães coragem… e o vazio das crianças que não puderam ser felizes”, que associou a uma angariação de fundos para apoio às crianças abandonadas pelos pais na Guiné Bissau.

Frequentou os cursos de desenho e pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, e foi co-fundador do Circularte – Círculo de Animação e Intervenção Cultural, em Leiria. Foi distinguido como o “Prémio Revelação”, na primeira edição do Prémio Nacional de Artes Plásticas Mateus Fernandes.

Realidade emocional
As árvores falam? Falam sim senhor! Os rios murmuram? Murmuram sim senhor! A Terra sente? Sente sim senhor! A Terra é a mãe que cuida de nós?

Chegados aqui, vamos à performance. Idealize uma selva. O desafio é formar um imaginário de verde, polvilhado de todas as cores, silêncios e sons, com tempos marcados pelo sol. O clima é quente, húmido e aromático. Nota-se que há uma respiração em curso. Sente-se o hálito da Terra. Pressente-se o pulsar da vida selvagem. Não sentiu nada? Então foi um prazer, até uma próxima exposição!

Sentiu algo? Boa, venha daí. O que proponho são apenas alguns momentos congelados, frações de segundo, numa infinidade de conhecimento. Ainda assim, arrisco pedir: faça do meu o seu olhar. Dê vida a estas imagens. Conceba-as com som, com calor e com cheiros. Aprecie os sorrisos, conjeture sensações, deixe-se tocar pelo olhar da determinação. Imagine uma rotina, orientada por vivências, impulsionada por crenças, motivada por um direito: o direito a viver na terra, da terra e para a terra. Obrigado! Foi um prazer viajar consigo até algo que nos está tão próximo: a mãe natureza.

 

 

Anciã Povo Nasa Colombia - Impressao em Lona 200x300cm

Anciã indígena povo Nasa
(Impressão em lona – 200 x 300cm)