Testemunhos

Fernando Camarate Santos

Escola

ESEL atual ESECS

Curso

Licenciatura. Turismo

Ano de conclusão

2004

Frequentei o Instituto Politécnico de Leiria, mais especificamente a ESEL — Escola Superior de Educação de Leiria, agora ESECS. Realizei o curso de Turismo, tanto o bacharelato como a licenciatura, entre 2000 e 2004.  

Guardo memórias muito positivas do meu tempo de estudante. Foi um período que me permitiu não só aprender, mas também conhecer verdadeiramente a cidade. Lembro-me bem dos ritos de iniciação de caloiro, em 2000, e também da minha participação, ainda que por um curto período, na tuna académica.

Foi um percurso intenso de aprendizagem. Os anos passaram num instante, e durante esse tempo acabei por me apaixonar pelo curso e pelos temas que ia descobrindo. Aproveitei imenso a variedade de tópicos que estudávamos e recordo muitas horas passadas na biblioteca, a pesquisar, a estudar e a preparar trabalhos.

Ao mesmo tempo, tinha de conciliar os estudos com o trabalho — trabalhei aos fins de semana em vários locais, desde supermercados a pizzarias — para conseguir juntar o dinheiro necessário para pagar o curso.

No geral, as memórias que guardo são extremamente positivas. Tive contacto com uma escola, um ambiente académico e um conjunto de profissionais e docentes que me marcaram de forma muito significativa. 

Depois de terminar o curso, o meu percurso profissional começou como agente de viagens. A minha primeira experiência foi na Lusoviagens, em Leiria, onde trabalhei durante pouco mais de um ano. A seguir, entrei no setor bancário e trabalhei no Millennium BCP, na Praça Rodrigues Lobo, também em Leiria, durante cerca de dois anos. Aproveitei esse período para juntar fundos e, ao mesmo tempo que trabalhava, concluí um MBA em Estratégia Empresarial pela Universidade de Coimbra.

Após essa fase, emigrei e fui trabalhar para a Ryanair, na Irlanda, em Dublin. Tive a oportunidade de ingressar nos escritórios da empresa, onde comecei como Marketing Administrator e mais tarde fui Marketing Executive. Aí tive a sorte de gerir o destino Portugal, sendo responsável por várias áreas de marketing e comunicação, incluindo a organização da abertura das primeiras bases da Ryanair no país — primeiro no Porto e depois também em Faro.

Mais tarde regressei a Portugal e fui trabalhar para a Parfois, no norte do país. Foi uma experiência onde aprendi muitos dos princípios básicos ligados ao desenvolvimento B2B, ajudando na abertura de lojas em novos mercados e no crescimento de redes de franquias já existentes.

Depois voltei ao setor do turismo, numa área diferente, emigrei para Londres e entrei na Viator, que mais tarde foi adquirida pela TripAdvisor. Foi aí que tive o meu primeiro contacto profundo com o universo dos passeios e atrações — um setor onde continuo até hoje. Trabalhei na Viator durante cerca de seis anos e meio como Director of Business Development.

Daí segui para Munique, Alemanha (onde ainda resido) tendo ingressado na Musement, outra empresa do mesmo setor. Fiz um trabalho semelhante ao da Viator e, tal como aconteceu anteriormente, também passei pela transição de startup para empresa adquirida — neste caso pela TUI, o maior operador turístico do mundo.

Atualmente continuo a residir na Alemanha e ainda trabalho na TUI onde, ao cabo de 7 anos, desempenho a função de Head of Strategic Partnerships and Distribution. Tenho a responsabilidade de gerir uma equipa que acompanha várias contas estratégicas. Gerimos a distribuição de passeios e atrações nessas plataformas e também dentro dos próprios negócios da TUI. É uma equipa totalmente remota, com colegas na Tailândia, Grécia, Inglaterra, Itália, Alemanha e outros países, e trabalhamos num dos segmentos com maior crescimento dentro da área a que pertencemos.

No seguimento do que referi anteriormente, atualmente trabalho na TUI como Head of Strategic Partnerships and Distribution. Estou integrado na unidade chamada TUI Musement, que é a área responsável pelos passeios e atrações dentro do grupo TUI. Esta unidade faz, por sua vez, parte de uma estrutura ainda maior — a TUI Holiday Experiences — que engloba não só passeios e atrações, mas também hotéis e cruzeiros.

O meu trabalho centra-se essencialmente na área de distribuição B2B e na distribuição de produtos de passeios e atrações dentro do próprio grupo TUI. Isto inclui, por exemplo, a gestão de algumas contas internas, como a distribuição de passeios para o TUI Hotels & Resorts, e contas externas, entre as quais a Booking.com, Loveholidays, EasyJet, Eurostar, Ctrip, Travel Counsellors, entre outras empresas de tecnologia no setor de Turismo.

Em resumo, sou responsável por garantir que os nossos produtos — passeios e atrações — são distribuídos e disponibilizados de forma eficaz tanto dentro do universo TUI como em várias das maiores plataformas do setor do turismo.

Tenho outro projeto, além da minha atividade profissional, que me motiva bastante e funciona como um complemento criativo ao meu dia a dia: comecei a escrever ficção. Escrevo sobretudo por prazer, é algo que me estimula e me permite explorar outros temas e outra forma de expressão.

Neste momento estou a preparar a publicação do meu primeiro livro, “A Face Sombria do Amor”, que será lançado a 12 de dezembro de 2025. É uma obra de ficção passada em Moçambique, que acompanha a vida de um jovem desde o seu nascimento, ainda no período do colonialismo português. A história passa pela relação difícil com o pai, pela realidade dura do trabalho dessa época, e segue depois o percurso deste jovem quando abandona essa casa, aprende a ler e a escrever e acaba por se juntar às forças de libertação de Moçambique.

Ao longo da narrativa, ele vive também um grande amor, torna-se pai e enfrenta tanto as guerras exteriores — a guerra da independência e, mais tarde, a guerra civil — como as guerras internas que todos travamos enquanto companheiros, amantes ou pais. O livro acompanha estes dois planos: as mudanças profundas que acontecem no país e as transformações pessoais que marcam a vida deste homem.

Além deste lado mais literário, tenho também um segundo projeto, este já mais ligado à esfera profissional. Dentro da TUI participo num projeto apoiado pela TUI Care Foundation, onde atuo como conselheiro para o desenvolvimento de negócios, numa lógica de consultoria e apoio à expansão. Estou a ajudar uma empresa sediada em Bali, na Indonésia, que organiza atividades de mergulho e, simultaneamente, trabalha na proteção de recifes de coral. Eles constroem estruturas metálicas que são colocadas no mar, acima dos corais, para os proteger e promover a sua regeneração.

O meu papel é ajudar esta empresa a distribuir os seus produtos globalmente — estes tours e experiências — para atrair mais clientes. Quando chegam mais clientes, isso gera mais trabalho local e, ao mesmo tempo, permite expandir a área de corais protegida. 

O Politécnico de Leiria contribuiu imenso para a minha formação, tanto profissional como pessoal. Mesmo nos períodos em que acabei por trabalhar temporariamente fora da área do turismo, a verdade é que voltei sempre a este setor. E isso deve-se muito ao gosto, ao interesse e à paixão que nasceram durante o meu curso de Turismo no Politécnico de Leiria. Foi essa base que me fez, repetidamente, querer regressar ao turismo e construir a minha carreira dentro dele.

A formação que recebi deu-me não só conhecimento técnico, mas também uma rede de contactos que fui desenvolvendo ao longo do tempo e na qual me sinto muito à vontade. As disciplinas, as metodologias e os princípios que aprendi enquanto estudante continuam a acompanhar-me até hoje — desde a importância da pesquisa, à capacidade de fazer as perguntas certas, à análise crítica que precisamos de ter quando queremos fazer algo diferente da concorrência.

No meu trabalho atual uso constantemente conceitos que aprendi nessa altura: análise e pesquisa de mercado, identificação de tendências, avaliação séria das capacidades do negócio, perceber vantagens únicas, posicionamento, e até a forma de construir uma narrativa sólida em torno daquilo que queremos apresentar ao mercado. São ferramentas fundamentais para antecipar movimentos da concorrência, reorganizar processos internos e testar se os nossos conceitos têm real potencial de sucesso.

Em resumo, muitos dos conhecimentos teóricos e práticos que aplico diariamente e que me permitem sentir-me tão confortável dentro desta indústria têm origem direta no meu percurso como estudante no Politécnico de Leiria.

Nesta fase da minha carreira estou num momento de reflexão, a olhar para tudo aquilo que fiz, para o que aprendi e para a forma como quero evoluir para a próxima etapa. Ao mesmo tempo, sinto cada vez mais vontade de partilhar algum do conhecimento que fui acumulando ao longo do percurso. Por isso, o que espero da rede Alumni do Politécnico de Leiria é precisamente essa possibilidade de troca: poder contribuir com a minha experiência e, ao mesmo tempo, aprender com as experiências dos outros.

Gostava de ter a oportunidade de partilhar o meu caminho profissional depois de terminar o curso — tanto as decisões que me ajudaram a crescer como os desafios que enfrentei. E, em contrapartida, também me interessa muito conhecer as histórias dos outros antigos estudantes, perceber os seus percursos, o que viveram depois da universidade, como lidaram com as mudanças e quais foram as aprendizagens que retiraram desses processos. Muitas vezes, é a partir da experiência dos outros que conseguimos acrescentar algo ao nosso próprio desenvolvimento.

Acredito que há valor em partilhar não só aspetos mais técnicos — como conselhos sobre pesquisa de mercado, a procura de novas oportunidades, saber reconhecer o momento certo para mudar — mas também aprendizagens que tive ao trabalhar tanto com startups como com empresas mais consolidadas. Acredito que é útil partilhar elementos como que tipo de empresa pode fazer mais sentido dependendo da fase da carreira, das características pessoais, da forma como cada um lida com o stress e das prioridades que vamos tendo ao longo da vida.

Portanto, o que espero da rede Alumni é isso: um espaço de partilha, aprendizagem mútua e apoio, onde possamos contribuir uns para os outros, independentemente do ponto onde cada um se encontra no seu percurso.

Como ainda estou agora a integrar-me na rede Alumni, não tenho ainda um conhecimento profundo sobre todas as atividades, oportunidades ou canais de comunicação que já existem. Por isso, as minhas sugestões partem sobretudo de uma ideia inicial — e é possível que algumas destas coisas até já estejam a ser feitas, e eu simplesmente ainda não tenha tido contacto com elas.

Uma sugestão que considero particularmente interessante seria criar momentos de partilha, seja de forma remota (por exemplo, através de webinars) ou presencialmente. Não apenas para falarmos do percurso académico ou profissional, mas para explicarmos de forma prática o que fazemos no dia a dia. No meu caso, por exemplo, poderia partilhar conhecimentos sobre negociação, gestão de parcerias B2B, como avalio o sucesso de um parceiro, que métricas utilizo, como defino objetivos ou como estruturo uma cooperação estratégica.

Podia também partilhar que livros consulto com frequência para o meu trabalho e porque é que considero essas obras importantes para o desenvolvimento profissional. Acho que uma abordagem deste género — de troca direta de ferramentas, métodos e experiências — pode ser muito enriquecedora para todos.

Outra área onde gostaria de contribuir seria na minha vertente mais recente, ligada à escrita de ficção. Seria interessante ter espaço para apresentar a minha obra, falar sobre o processo criativo, ou até ler excertos para quem tiver curiosidade sobre o tema. Não é algo diretamente ligado ao percurso profissional, mas acredito que também faz parte do crescimento pessoal e pode ser inspirador para outros.

Em resumo, penso que atividades de partilha prática, conversas abertas sobre o que cada um faz, trocas de ferramentas e até momentos culturais.