Testemunhos

Diogo Silva

Escola

ESECS

Curso

Licenciatura. Tradução/Interpretação Chinês-Português

Ano de conclusão

2012

Chamo-me Diogo Silva e, entre 2008-2012, frequentei a licenciatura de Tradução e Interpretação de Português/Chinês- Chinês/Português na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais.

O meu curso foi interessante uma vez que, sendo de 4 anos, exigiu que passasse 2 anos a estudar na China (um ano em Macau e outro em Pequim). Portanto, ao todo, tive aulas em três cidades diferentes. Tendo sempre tido um gosto por viajar e conhecer novas culturas, foi esta componente que, mais que tudo, me atraiu pessoalmente para este curso.

O primeiro ano foi a primeira e última vez que experienciei a vida académica em Leiria (tirando o penúltimo semestre do curso, de volta a Portugal). Gostei das praxes, das tunas, dos jantares de curso… e sendo também o meu primeiro ano de ensino superior, foi interessante adaptar-me a uma mentalidade de estudo diferente da do ensino secundário.

Aprender chinês não foi fácil, mas também não foi tão difícil como muita gente pensa. O maior problema foi aprender o básico. Enquanto numa língua ocidental (como, por exemplo, o inglês) os fundamentos da língua podem aprender-se num mês, no chinês os elementos base (como a complexa escrita ideográfica e os tons orais) demoram mais tempo a serem entendidos por um principiante. Também a ausência de quaisquer palavras semelhantes ao português dificulta a memorização do vocabulário. Apesar destes desafios, a partir do momento em que já se compreende o básico, a aprendizagem do chinês torna-se mais fácil.

Lembro-me perfeitamente dos meus primeiros dias em Macau. A minha primeira vez na China e na Ásia… Os meus sentidos foram invadidos por uma variedade de sons, cheiros e imagens desconhecidos até aí. Os carateres chineses escritos em todo o lado, o cantonês nas ruas, o calor húmido, a comida que não tem nada a ver com a dos restaurantes chineses em Portugal… Creio que Macau foi um bom ponto de partida, pois os sinais de 500 anos de influência portuguesa ajudaram-me a adaptar-me mais facilmente a uma cultura que, na sua maior parte, é tão diferente da nossa. Infelizmente, o facto de a principal língua de Macau (e da vizinha Hong Kong) ser o cantonês tornou mais difícil aprender e praticar o mandarim (apesar do mandarim ser mais comum hoje em dia em Macau, a maior parte dos habitantes prefere falar cantonês). Também a escrita tradicional chinesa, utilizada em Macau, é mais difícil do que a escrita simplificada que aprendemos nas aulas. Apesar disso, pudemos praticar o mandarim não só com os nossos professores, mas também com os alunos chineses do Instituto Politécnico de Macau (IPM), que na sua maioria vinham da China continental.

De certa forma, estudar em Macau foi o equivalente asiático a estudar em Las Vegas. Por todo lado se viam casinos, lojas e hotéis de luxo. À noite, toda a cidade ficava coberta por luzes de néon. Apesar de tudo, as instalações do IPM eram um lugar calmo, onde não eramos muito afetados por estas distrações. A biblioteca, em particular, era bastante agradável para estudar, felizmente com livros em inglês e português.

No terceiro ano, já em Pequim, deu-me uma certa satisfação pessoal descobrir que já era suficientemente fluente em mandarim para conseguir ter uma conversa com um chinês que não falava inglês.

Confesso que o ano do curso que mais gostei foi o passado em Pequim. Primeiro, o campus da nossa universidade (Beijing Language and Culture University) era bastante agradável e conveniente: tinha supermercados, lojas, um ginásio, restaurantes, bares…

Segundo, adorei a cidade de Pequim. Adorei a sua história milenar e monumentos antigos (a Grande Muralha, a Cidade Proibida, o Palácio de Verão…) e o contraste de tudo isso com o lado moderno de Pequim. Gostei também da internacionalidade da cidade, da forma como era possível conhecer e fazer amizades com pessoas de toda a parte do mundo (com algumas ainda hoje mantenho contacto).

O ano letivo chinês é diferente. Não há férias de natal; em vez disso tem as chamadas “Férias do Ano Novo Chinês”, que duram um mês inteiro e começam normalmente entre janeiro e fevereiro (a maior parte dos feriados e férias chineses regem-se pelo calendário lunar, que é diferente todos os anos). A China é próxima de vários países interessantes; por isso, nestas férias prolongadas, aproveitei para ir a países que, de outra forma, não teria oportunidade de visitar, como o Japão, a Coreia, a Tailândia, a Indonésia e outros.

Depois de concluir o ano em Pequim, voltei para um semestre em Leiria. Após tanto tempo fora, foi agradável poder passar algum tempo a estudar na minha terra natal.

No semestre final do 4º ano, fiz estágio como tradutor e intérprete na Embaixada de Portugal em Pequim. Foi a minha primeira experiência profissional relacionada com o curso, tendo sido igualmente interessante trabalhar num ambiente de diplomacia internacional.

Após o verão em que acabei o curso, e graças aos contactos do IPLeiria, arranjei trabalho como professor de português numa universidade na ilha de Hainan (no sul da China), trabalho que desempenho de há dois anos para cá. Como nenhum dos meus alunos aprendeu português antes, com os primeiros anos tenho de utilizar mandarim para explicar o vocabulário e a gramática portuguesa. A minha experiência com a aprendizagem da língua e a cultura chinesa tem-se revelado bastante útil para compreender as dificuldades dos meus alunos e ajudá-los a entender as lições.

Ao olhar para trás, posso dizer que foi um percurso fantástico e inesquecível, pelo qual eu estarei sempre grato ao Politécnico de Leiria.

Espero que a Rede IPLeiria@lumni continue a promover a participação de antigos estudantes em conferências e outras iniciativas. Também espero que continue a ajudar a encontrar oportunidades, quer académicas, quer profissionais.

Como sugestão, acrescentaria que talvez se pudesse fazer mais publicidade à Rede nas instalações do IPLeiria. Por exemplo, poderia pedir-se aos professores para, em sala de aula, se informarem os atuais estudantes sobre a existência da Rede.