Raquel Rosa
Sou a Raquel Martins Rosa e, entre 1996 e 2001, frequentei o Curso de Formação de Professores de 1º Ciclo, Variante de Português e Inglês na antiga Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL), agora ESECS.
Os meus tempos de estudante em Leiria foram talvez as melhores memórias que tenho da vida que deixei em Portugal. Fiz parte da Tuma Acanénica, fui presidente da Associação de Estudantes da ESEL. Acho que vivi a vida académica muito intensamente, mas tenho algumas memórias que guardo com particular carinho. A casa onde vivi no Bairro dos Capuchos com as minhas amigas era no mínimo diferente…era conhecida por todos os estudantes naquela altura como a República das Paxaxas… onde, como já se vê, só viviam mulheres. Foi com as “paxaxas” que aprendi a tomar conta de uma casa. Lembro-me também de quando fui apanhada por uma Trupe… e acabei a tomar banho de madrugada na Fonte Luminosa. A passagem pela Tuma Acanénica também foi algo que me marcou muito. Toquei cavaquinho porque cantar não era uma opção…sou do tempo em que a Tina escreveu a Linda Leiria e, nessa altura, senti cada palavra que ela escreveu nessa música. Ver as serenatas às meninas à noite, ver as trupes e o Terreiro cheio de capas negras são, sem dúvida, memórias que deixam muita saudade. A primeira vez que subi ao palco com a Tuma Acanénica e cantámos a Linda Leiria lembro-me perfeitamente de pensar de mim para mim: “deixa-me olhar, com olhos de ver e sentir tudo o que se está a passar à minha volta”. Essa memória vive comigo até hoje.
No ano de 2001, assim que terminei o meu curso, fui convidada para vir dar aulas de Língua Portuguesa para os Estados Unidos, onde estou até hoje.
Lecionei Língua Portuguesa e História e Cultura Portuguesa durante 18 anos numa escola comunitária. Ou seja, uma escola criada há mais de 40 anos por emigrantes portugueses que querem manter vivo o vínculo a Portugal. Ao serviço da Escola Lusitânia conheci uma comunidade portuguesa fabulosa na cidade de Long Branch e realizei projetos que nunca pensei que se tornassem possíveis. Um dos projetos que mais me deu prazer foi termos colocado uma estátua de cera do Cristiano Ronaldo no Madame Tussauds, o Museu de Cera em Nova Iorque. Levei alunos americanos à Casa Branca, às Nações Unidas, ao Palácio de Belém e, ainda, representámos os Estados Unidos no Parlamento dos Jovens na Assembleia da República, conseguindo a proeza de sermos a única escola portuguesa nos Estados Unidos a fazê-lo.
Em 2017 tive a honra de receber da American Organization of Teachers of Portuguese – AOTP AWARD of Excellence in Teaching of Portuguese in the United States – o prémio Best Nacional Portuguese Teacher in Middle or Secondary School, além dos prémios que a Escola Lusitânia recebeu da AOTP, durante 2 anos seguidos,como melhor instituição de ensino comunitário.
Fora da comunidade portuguesa, e mais inserida no ensino americano desenvolvi o programa de Língua Portuguesa da Brookdale Community College, onde lecionei durante dois anos. De seguida, enquanto docente dessa instituição criei uma parceria com a escola secundária da cidade de Long Branch, onde também criei um programa de Língua Portuguesa. Ainda no ano de 2017 recebi das mãos da então senadora, em nome do Senado do Estado de New Jersey, uma State Legislative Resolution pela dedicação e serviços prestados ao Estado de New Jersey ,ao nível da educação, tanto nas escolas públicas como nas escolas comunitárias. Enfim, têm sido muitas e gratificantes as aventuras aqui por terras do tio Sam.
Depois de concluir o Mestrado em Português como Língua Não Materna e uma Pós-Graduação em Bilingual and English as a Second Language, dediquei-me ao ensino público americano e, neste momento, dou aulas numa escola secundária americana de English as a Second Language, na qual a maioria dos alunos vem de países pobres da América Central e do Brasil. São alunos que têm histórias de vida complexas e com os quais aprendo o valor do ser humano e da dignidade humana. São alunos que entram nos Estados Unidos das mais variadas formas e que fogem de cenários que só estamos habituados a ver nos filmes… Todos os dias aprendo alguma coisa muito interessante com eles.
Neste momento, e depois de servir a comunidade portuguesa da cidade de Long Branch durante cerca de 18 anos, achei que era altura para fazer uma pausa e ver o que pretendo fazer a seguir. Como costumo dizer aos meus alunos “se não for para ser divertido, não vale a pena”.
O Politécnico de Leiria contribuiu de uma forma fundamental para a minha formação, tanto profissional como pessoal. Os valores das pessoas que trabalhavam nessa altura na antiga ESEL foram fundamentais para a pessoa em que me tornei. Desde as meninas das fotocópias, a Sílvia e a Cândida, ao senhor Barata e muitos mais. Professores sempre prontos a ajudar. E, além de tudo, a qualidade de ensino que me permitiu integrar o mercado de trabalho aqui nos Estados Unidos sem grandes dificuldades e atingir, pouco a pouco, todas as metas profissionais a que me propus quando aqui cheguei.
Espero que a Rede Alumni ajude a manter o contato com a Instituição que me deu a formação inicial e me permitiu chegar onde estou hoje, a saber dos meus antigos colegas e do que se vai fazendo pelo Politécnico de Leiria.
Sugiro, ainda, que a Rede mantenha os horizontes abertos e que se lembrem que os emigrantes estão sempre de braços abertos à espera de poder ajudar quem chega de novo a um país. Mostrem essa realidade aos alunos do Politécnico de Leiria e estejam cientes de que com uma boa formação académica estamos prontos para qualquer desafio que nos coloquem dentro ou fora de Portugal.