Testemunhos

Andreia Mingroni

Escola

ESAD.CR

Curso

Mestrado. Gestão Cultural

Ano de conclusão

2022

Olá,

Sou a Andreia Mingroni Besteiro e frequentei o Mestrado em Gestão Cultural na ESAD.CR. Iniciei o curso em 2019 e terminei em 2022.

Tive uma mudança de vida ao chegar às Caldas da Rainha. Todos na cidade, principalmente na ESAD.CR me acolheram muito bem. Foi um período de descobertas pessoais e profissionais. Resolvi mudar de país ao fazer o mestrado em Gestão Cultural, mas pouco poderia esperar da mudança tão grande que carregaria para a minha visão de mundo. Foi um período de bastante aprendizado e de grande troca entre os colegas e professores. Pude descobrir paisagens, sabores e pensadores da área da cultura. Me (re)descobri imensas vezes! E adquiri como prática criar novas experiências, despertei para a importância em estar atenta ao nosso redor e de como é enriquecedor fazer coisas pela primeira vez.

Ser aluna do Instituto Politécnico de Leiria, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha – ESAD, tendo cursado o mestrado em Gestão Cultural, foi um divisor de águas em minha trajetória pessoal e profissional.

Sou filha de pai português e foi durante o mestrado que me tornei, de fato, luso-brasileira. Em minha experiência pregressa no Brasil enquanto profissional da cultura conquistei conhecimento empírico desta área que é tão vasta, rica e importante para a nossa construção social e cidadã. Foi então que, em 2019, decidi me (re)descobrir no além-mar e tive a grata surpresa de encontrar uma Escola de excelência, com professores competentes e acolhedores, além da possibilidade de fazer amizades com pessoas incríveis.

Mesmo o curso tendo os encontros presenciais interrompidos pela Pandemia do COVID-19, a partilha e o aprendizado durante todo o curso foram imensos. Foi a partir de conexões fomentadas por projetos do mestrado que foram propiciadas duas das minhas mais valiosas experiências profissionais em solo português.

Uma delas em uma associação de Almada em que pude desenvolver, receber financiamento de fundo europeu e, assim, realizar, um projeto que foi muito importante para reativar a conexão entre bibliotecas e propostas culturais realizadas pré-pandemia em pequenas localidades da Trafaria, 2º Torrão e Cova do Vapor, estimulando iniciativas que fomentassem a leitura e o reencontro através da cultura e da arte de pessoas que estavam em situação de isolamento dado o cenário pandêmico ainda em curso na altura. Esse projeto me propiciou entender mais sobre a operação dos fundos europeus, pois inscrevi, aprovei e prestei contas do projeto, mas, principalmente, me fez com que olhasse para mim, na perspetiva de profissional de cultura, enquanto promotora de boas práticas de bem-estar de pessoas, sendo necessário estimular o tecido social, mas também o poder público e os agentes culturais de cada zona a qual realizámos o projeto. Estar atenta e aumentar minha escuta foram ganhos pessoais, que carrego par ao ambiente profissional, sabendo que são práticas a serem estimuladas e percebidas constantemente, para que haja uma melhoria contínua.

Após essa experiência, atuei por cerca de 18 meses em Torres Vedras, onde pude profissionalizar a área de gestão e produção cultural de uma associação estabelecida há mais de 12 anos no território, também com muita perceção sensível do que já era tralhado, o que se desejava e desenhando os cenários de como poderiam ser os passos futuros. Nessa experiência pude perceber como é delicado estarmos em um lugar novo e atravessarmos uma trajetória já há muito estabelecida, mas agindo sempre para que as trocas e os aprendizados sejam constantes, percebendo e mostrando que a cultura é viva e que as experiências distintas dos que atuam nessa área tornam as instituições cada vez mais potentes. Em Torres Vedras também participei de um coletivo que fez um festival de artes e sustentabilidade, apenas com a iniciativa civil. Estar de fato em um lugar, vivendo em comunhão com as pessoas, sendo respeitosa às histórias, mas também com vontade de contribuir para os pontos que me competem, são importantes lições que aprendi durante este tempo.

Ao vir passar férias no Brasil, em finais de 2022, fui convidada para assumir a Direção Artística da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. Essa instituição, que é a maior instituição cultural da América Latina, abarca o Theatro Municipal de São Paulo, que detém 112 anos, mas também outros espaços como a Praça das Artes, mas o mais importante são as pessoas que atuam em constante nesses espaços. A Fundação é composta por duas Escolas – a Escola de Dança de São Paulo e a Escola Municipal de Música, ambas abarcam mais de 2 mil alunos por ano com formação profissional e pública nas respetivas linguagens – a Orquestra Sinfônica de São Paulo, a Orquestra Experimental de Repertório, o Coro Lírico Municipal, o Coral Paulistano, o Balé da Cidade de São Paulo, o Quarteto de Cordas de São Paulo e o Ensemble. Todos esses grupos, que somam mais de 500 profissionais dedicados, fazem com que a estrutura da Fundação ultrapasse a arquitetura do Theatro, mas mantenha uma produção pujante, constante e de grande importância para o cenário municipal, estadual, federal e mundial. A manutenção em contínuo de uma estrutura que promove e fomenta a cultura e a arte da formação até a difusão e fruição cultural, manutenida pela prefeitura da cidade de São Paulo, faz com que eu tenha uma enorme responsabilidade para que o que se faz dentro da organização tenha relação direta com a sociedade civil, com o poder público e com as demais instituições e profissionais da cultura do Brasil e do Mundo.

Temos como missão mantermos viva toda a trajetória trilhada até aqui e assumir os desafios do cotidiano, transformando vidas, contribuindo para a construção da cidadania e despertando a sensibilidade aos que nos assistem, mas, principalmente, aos que mantém essa estrutura.

A minha experiência no mestrado proporcionou-me, também, fazer conexões com Portugal para fomentar projetos em conjunto – Brasil + Portugal – podendo atuar em minha verão que mais aflorou durante o período que estive no IPL, a mediação, o possibilidade de trabalhar como uma membrana permeável que escuta ativamente, trabalha as informações e as transforma para que sejam ainda mais potentes no âmbito em que um coletivo, ou a instituição a qual eu esteja a frente, percebemos como importante no momento. É muito bom, com o passar dos anos, perceber que a formação como mestre em Gestão Cultural me fez ser potente como uma catalisadora das boas práticas profissionais de um gestor cultural, mas sabendo que devo estar sempre atenta ao mundo, pois a cultura é mutável, viva, rica, transforma e é transformada a cada momento, assim como a vida de cada um de nós que, em conjunto a formamos.

Através da Rede Alumni, espero poder estar em contacto com colegas que partilham desta ideia de que o IPL contribuiu para a construção de um caminho pessoal e profissional. Como sugestão deixo a ideia que possam criar uma página de Instagram e LinkedIn para que possa ser uma plataforma mais ativa no âmbito pessoal (Instagram) e profissional (LinkedIn).